sexta-feira, 24 de abril de 2009

Inquietude

Há pouco me peguei passando por todos os sites de imobiliárias da cidade a fim de procurar um apartamento. Um imóvel maior do que o atual, com uma vista agradável, mas com uma cozinha tão boa quanto a minha. Preferencialmente no mesmo bairro, que aprendi a amar.

Tudo bem, não fosse o fato de que estou morando nesse apartamento há menos de oito nove meses!

Antes o que importava era sair da casa dos meus pais (não que eu não me dê bem com eles, pelo contrário, amo-os!) e vir morar próxima i) da universidade e ii) próxima da empresa onde trabalho, além de iii) estar próxima dos amigos e lugares que frequento.
Quando encontrei esse apartamento, agarrei-o com as duas mãos - e com uma choradeira legitimamente mexicana à funcionária da imobiliária - pois é seguro, bem localizado, reformadinho, na rua mais simpática do bairro, enfim.
Mas com o passar do tempo surgiram vizinhos barulhentos, dei-me conta de que a falta de uma vista legalzinha incomoda e falta espaço (é um kitinete/JK/conjugado). Mal paguei as contas dos móveis adquiridos para a mudança e já estou inquieta procurando outro canto para morar.

O nome disso? Inquietude, certamente. O que antes preenchia as expectativas tornou-se um mínimo aceitável para viver. Nós, humanos, estamos sempre querendo mais da vida. Nunca estaremos satisfeitos, isso é fato.

Hoje, apesar da proximidade com a universidade que possuo e do bem-querer ao bairro atual, já cogito novamente o meu bairro-primeiro-amor, o Bomfim. Além da inquietude também é visível a mudança de interesses no último ano: onde moro há dezenas de baladas para todos os públicos, barzinhos à beira de todas as calçadas, muita gente na rua de dia e à noite, é um bairro totalmente boêmio. Adorava isso!
Agora já me encanta pensar em caminhadas pelas ruas arborizadas que desembocam no parque da Redenção, nos cafés aconchegantes, nos armazéns com cara de interior, nas livrarias da Osvaldo Aranha e nas baladas mais próximas, que são o Ocidente e o Beco (underground in, música brasileira out).
São dois amores tão distintos... que contraditória!

Essa é a parte palpável da inquietude da alma. Existe, claro, a parte interior.
A alma que busca preencher outros vazios não contemplados pela vidinha boêmia de até então. É quando um chopp não faz diferença. Quando arrumar o cabelo e subir em um salto não anima tanto. Quando pensar em uma noite a dois não dá água na boca. Tudo isso ainda é muito bom na minha opinião, mas não é suficiente.
Só que eu não sei o que falta para completar. Seria piegas dizer que é um relacionamento. Poderá até ser, mas não é o relacionamento em si: é conhecer uma pessoa que faça tudo ser diferente.
Mas não sei se é isso efetivamente.
Pode ser a doação a alguma causa maior.
Pode ser a entrega a um aprendizado novo.
De certa forma sei que é uma ação que envolva a alma.
Resta descobrir em que dimensão.

*****

Esse texto escrevi há um mês e havia publicado em outro espaço, mas continua válido e resolvi trazê-lo para cá.

3 comentários:

  1. Sei o que é isso... Se serve de conselho, cuidado! Ja gastei muita grana por inquietação. Sei que é maior que a gente e imagino você no mesmo conflito interno que eu: Se eu pesquisar, posso achar algo melhor, porém se demorar muito, posso perder a oportunidade do que eu já achei.

    Beijo

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  2. Uau, tu escreve muito bem mesmo, já pensou em fazer Comunicação? :)
    Sério mesmo!
    E tem outra vantagem de morar no Bonfa, dá pra ir de bus pro trabalho sem se dar auto-desculpas de não ter dado aquela caminhadinha heheheheh

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  3. Eu também sinto esta inquietude. Talvez mais gente do que se imagine sinta isto também. E talvez o jeito de lidar com este sentimento seja fazer tudo o que citaste: encontrar um cantinho melhor, uma pessoa querida, lutar pelas causas que acreditamos, enfim...Talvez seja este segredo: fazer tudo :-). Hoje eu liguei a televisão e ouvi uma frase muito legal: "a vida premia quem está em movimento".
    Bjs,
    Rita.

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