quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Por que textos de auto-ajuda destroem você

Reproduzo abaixo um artigo que acabei de ler, com o qual me identifiquei muitíssimo. Quem me conhece sabe que não suporto textos de auto-ajuda e conteúdos motivacionais enganadores, pelos motivos que o autor Rodolfo Araújo explica muito bem abaixo.

Recomendo a leitura completa do texto e reflexão sobre em que tipo de pilares você tem se apoiado para justificar sua acomodação. Os termos destacados são os que mais me chamam a atenção:

"Depois dos calmos Quem mexeu no meu monge? e O monge, o queijo e a vida real, eu havia prometido não falar mais de livros de auto-ajuda. Mas quando vejo uma revista de administração que se diz topo-de-linha, onde um articulista pretensamente idem vem com essa balela de "o seu sucesso só depende de você", "você tem as rédeas da sua vida" e coisas semelhantes, eu não consigo me conter.

Pensei um pouco mais a fundo sobre o tema - pelo menos ele serve para alguma coisa - e bolei uma teoria que agora divido com vocês, em primeira mão. Mas segura aí porque vai doer! Senão vejamos:

A maioria desses livros se apóia na seguinte falácia: Você é brilhante e para ser um sucesso só falta querer! Isto é:

SER UM GÊNIO + QUERER SER UM SUCESSO = SER UM SUCESSO!

Bom, se você já é um gênio e a única coisa que faltava para ser um sucesso era querer ser um sucesso, então tudo está resolvido. Porque depois de ler o livro de auto-ajuda você também passou a querer ser um sucesso! OK, então eu concordo que as pessoas devem ler UM livro de auto-ajuda, porque ele as fará querer ser um sucesso.

Bom, então o passo seguinte é todo mundo virar um sucesso, certo? Mas peraí, nem todo mundo é um sucesso... Então deve ter alguma coisa errada com a equação acima.

Se a segunda premissa é verdadeira (afinal, quem não quer ser um sucesso?) e o resultado esperado não aconteceu, então deve ter alguma coisa errada com a primeira premissa.

Exatamente! O problema está aí! Você não é um gênio...

Há algumas razões para isso. Mas há, também, muita esperança e você não precisa desanimar!
Em primeiro lugar não há motivo nenhum para ficar triste. Eu também não sou um gênio, porque também quero ser um sucesso, mas não sou. Logo, você tem ao menos a minha companhia.

Então, depois de ler o seu primeiro livro de auto-ajuda, você descobriu duas coisas:

1. Você não é brilhante;

2. Você precisa querer ser um sucesso - e isso você já quer!

Então, a única coisa que você precisa consertar é a primeira. Você precisa ser brilhante e, para isso, só existe uma maneira: RALAR, ESTUDAR!

O grande problema disso é que as pessoas não querem ralar, não querem estudar, querem o menor esforço. Elas querem ser brilhantes - e, consequentemente, um sucesso - sem nenhum trabalho. E os picaretas que escrevem livros de auto-ajuda prometem exatamente isso: você vai tornar-se um sucesso da noite para o dia sem nenhum esforço. Claro, porque querer ser um sucesso não dá trabalho nenhum e é, aliás, uma tendência natural do ser humano. Praticamente uma obrigação.

Aí, o sujeito nada brilhante que lê esse livro prefere acreditar somente na parte que diz que ele vai ser um sucesso sem fazer nada, do que na que diz que ele vai ter que estudar muito e que isso vai dar um trabalho danado.

Más notícias, amigo, isso não vai acontecer.

Recentemente o Malcolm Gladwell abordou esse tema em Fora-de-série/Outliers - que você não leu porque tinha nas mãos a décima versão de "O padre e a cafetina" - mostrando que há três fatores essenciais para o sucesso: ser brilhante, praticar e sorte.

Você - que, lembre, não é brilhante - acha que estudar dá trabalho, praticar dá mais ainda e prefere, assim, apostar tudo na sorte. Afinal de contas, os papas da auto-ajuda dizem que se você realmente acreditar, a sorte virá. E você acredita. Senta em cima da sua bunda e fica esperando. Só que eles te enganam, espertamente esquecendo de dizer que você precisa se esforçar um pouco, ao menos. É como se Deus te dissesse que você vai ficar rico ganhando na loteria e aí você nem sequer se dá ao trabalho de comprar o bilhete.

Certa vez o magnata do petróleo Jean Paul Getty deu sua receita de sucesso: "Acorde cedo, trabalhe muito, ache petróleo". Perfeito! O problema é que ela só funcionou para cinco pessoas até hoje. Eu, particularmente, não tenho nenhum amigo que achou petróleo na rua. Tudo bem, eu tenho poucos amigos. Talvez você conheça alguém que achou.

Mas não, as pessoas continuam a acreditar nisso. Tinha uma pessoa que trabalhava comigo que sonhava com uma posição na área comercial - onde era preciso estudar muito, falar muito bem para ser convincente e ter facilidade com números. Tudo o que essa pessoa não tinha - e que demoraria muito para conseguir. Eu brigava com o meu chefe, porque em vez de ficar incentivando esse sonho inalcançável, penso que ele deveria apontar-lhe caminhos mais factíveis, de acordo com as habilidades que ela já tinha, ou com as que conseguiria desenvolver mais facilmente.

Sonhos impossíveis não servem para manter a esperança acesa. Servem para confirmar um futuro frustrado. Dizem que devemos deixar as pessoas sonharem com o que quiserem. Tudo bem, desde que realmente saibam que aquilo é uma fantasia. Tipo Smurfs voadores ou baleias falantes.

Mas sonhar em ser astro da novela das oito (a menos que você realmente esteja se dedicando à carreira de ator) ou campeão do mundo de futebol (desde que você tenha entrado na escolinha com três anos de idade) não te farão uma pessoa feliz. Não faz bem querer ser bebê Johnson's com vinte e nove anos.

Claro que é melhor sonhar do que ser pessimista. Mas sonhar enquanto faz alguma coisa pelo seu sonho é melhor ainda! Então vá lá! Leia um livro de auto-ajuda. Qualquer um, porque tanto faz. Se você já leu, então mãos-à-obra, vá estudar! Mas se começar a ler o segundo livro de auto-ajuda, então definitivamente você não é um gênio.

Outra prova disso, é que livros de auto-ajuda vendem milhões de cópias e os casos de sucesso são bem menos frequentes do que isso. Então a fórmula não funciona. No todo, ou em parte dela. Qual parte? Provavelmente a que diz que você é um gênio.

O que esses livros realmente dizem, nas entrelinhas, é que todos nós somos uns bostas. Porque se só depende de nós sermos um sucesso - e mesmo assim somos um bostas - então quer dizer que somos realmente uns bostas. Ninguém prefere continuar a ser um bosta se tiver a opção de ser um sucesso ao alcance das mãos.

Talvez o problema resida no fato de as pessoas darem um valor desmedido à esperança e aos elogios ("Você é um gênio e, para ser um sucesso, só falta querer!"). Num interessante artigo sobre Qualidade e Performance, Peter Scholtes conta a ilustrativa história vivida pelos pilotos e instrutores da Força Aérea de Israel.

Estes notaram que, depois de um vôo ruim, seus pilotos eram repreendidos e, então, melhoravam a performance. Por outro lado, os pilotos que faziam bons vôos e recebiam elogios acabavam por piorar suas performances nas tarefas subsequentes.

Mas em vez de atribuir a melhora da performance à reprimenda e a piora ao elogio, eles perceberam que as mudanças nada mais eram do que caminhos naturais.

Quando você atinge a sua melhor marca, o caminho natural é piorar. Do mesmo modo, quando faz um trabalho ruim, provavelmente vai melhorar depois. Naturalmente.

Então, quando você está no fundo do poço, só há um lugar para onde pode ir: para cima.

Antes de ser um pessimista-fatalista, espero que você veja nesse texto uma necessária dose de realidade na hora de pensar em seus sonhos. A tão propalada auto-ajuda dos livros adormece suas ambições, travestindo-as de falsa esperança. Ela te embala com a promessa de um maravilhoso sonho, enquanto você vive uma dura realidade, bem diferente daquela pintada em letras douradas na conta-corrente do autor que te engana. Assim, a grande falácia da auto-ajuda nada mais é do que uma grotesca lorota de auto-atrapalha."

5 comentários:

  1. Olha, eu não consigo concordar com este cara ...
    Li até o meio, e já discordei de um monte de coisa...

    Eu acho que cada pessoa tem que descobrir no que é "brilhante". Acho, sim, que cada pessoa tem um talento.

    Só que, óbvio, todo mundo quer ser gerente para ganhar mais. Só que ninguém se dispõem a ter uma vivência de liderança em outro lugar pior remunerado como, por exemplo, voluntariado, comunidades, etc ...

    Se a pessoa faz o que gosta, óbvio que ela vai fazer com paixão e vai ser um gênio. Agora se for pautar a carreira só por dinheiro, tem que ser um fracassado mesmo ...

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  2. Mas talento é tal e qual uma pedra preciosa: se não for lapidado (com estudo, trabalho, experiência) ele é bruto e será mal aplicado. É isso que o texto diz.
    Que não adianta ler textos motivacionais dando receitas de bolo ou tapinhas nas costas. Justamente o que é preciso é se esforçar. O texto não fala em pensar em dinheiro nem em gerência; fala em não ficar acomodado.

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  3. Esta frase "Você não é um gênio" é um pouco complicada... Eu acho que todo mundo tem condições de ser bem sucedido naquilo que faz com amor. "Você não é um gênio" é óbvio, se para ser gênio não fosse necessário esforço e trabalho.

    Eu acho que todo mundo tem condições de ser gênio, desde que entenda também os meios e não somente os fins.

    Sei lá... o pouco que eu li não dava esta visão fantasiosa, embora tenha um forte lado motivacional.

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  4. Pra começar, auto-ajuda, sempre me pareceu promessa de pessoas que só conseguem vender livro.
    Como nunca fui muito fa dessa ideia, acho que não existe a bala de prata, afinal cada pessoa é diferente da outra, não dá para dizer que existe a formula magica que funcionará para todas da mesma forma.
    Mas se alguem curte ler, tudo bem, vá lá, leia e seja feliz e bem sucedido.

    Concordo bastante nessa parte de ralar, tive a oportunidade de ver um colega novo ao entrar na empresa, ele tinha muita ambição, mas não queria ralar muito, ele queria sempre feedbacks frequentes, e só queria subir. Logo.... se frustou e acabou saindo da empresa, pois a expectativa dele estava muito alta.

    Encaro mais as coisas como ondas, tem epocas de maré baixa, e outras na alta, devemos aproveitar as duas marés, elas são importante para a evolução e reflexão.

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  5. Oi Tatiane,

    obrigado pela reprodução do meu texto. Agradeço os comentários que mostram que ao menos ele provoca alguma reflexão.

    Atenciosamente, Rodolfo.

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