domingo, 23 de agosto de 2009

O tamanho do seu problema nunca é tão grande quanto parece

Ontem aconteceu pela segunda vez em cerca de um mês o diálogo entre alguém que desabafa sobre seu universo de problemas e uma pessoa prática que discursa apontando causa e solução para tais problemas. Essa última pessoa no caso sou eu.

Sábado de noitinha, toca o celular enquanto estava terminando de organizar a casa depois da faxina e pensando em mergulhar em um banho restaurador. Olho para o número que está chamando e, apesar de ele não me parecer estranho, não o reconheço propriamente. Ao atender me deparo com a voz de uma amiga de longa data (mais de 10 anos) com quem perdi um pouco o contato desde que saí de Canoas. Perguntando-lhe se estava tudo bem - e esperando receber a resposta default - ela me diz que não, que as coisas não vão nada bem e que ela já não sabe mais o que fazer porque a família dela está se levantando contra ela e também porque ela continua desempregada e porque a sua mãe sofreu uma ameaça de infarto na última semana e... ufa! E mais uma série de acontecimentos nessa linha. Foram cerca de 30 minutos no telefone e, se você pensa que na maioria do tempo foi ela quem falou, se enganou. Fui eu.

Mais uma vez percebi ao longo do relato da minha amiga que a fonte e potencializadora dos seus problemas era uma só: a falta de um emprego. Um emprego que dê renda, que ocupe a mente, que insira em um novo círculo social, que proporcione auto-confiança e permita realizar atividades que deem prazer. E como disse ao começo do texto, essa foi a segunda vez que percebi que a solução do caos situacional de uma pessoa se dissiparia por meio do trabalho que, longe de ser uma forma de castigo como visto na idade antiga, é a redenção do ser humano. Já havia aconselhado um conhecido a esse respeito antes, mas não sei se isso ajudou-o ou não, pois não tive mais notícias suas. Será que seu afastamento foi por conta da minha intervenção? Talvez... mas continuo firme em minha opinião.

Só que essa minha amiga apresenta um quadro mais grave do que apenas ter tempo disponível demais na semana. Desde que a conheci percebi que ela leva o seu mundinho nas costas, ou seja, ela sempre é procurada para resolver as pendengas dos irmãos, da mãe que não faz sequer uma compra sozinha, dos vizinhos, da amiga que tinha desespero para arumar um marido e depois não sabia o que fazer com ele, da irmã adotiva que cada vez que dava pra um cara engravidava e que depois foi morar com um guri de 15 anos (QUINZE anos!), do pai alcoólatra e de quem mais lembrasse da boa samaritana do bairro. Resultado? Mais de trinta anos vividos para e pelos outros. Ela solteira. Ela sem carreira. Sem perspectivas. Se liberte, bitch!

Muitas pessoas são altruístas e isso não é defeito; entretanto ajudar a todo mundo e esquecer-se de si mesmo é o pior dos erros. Parece clichê, mas é fato: a vida é uma só (uma vez que eu não acredito nem vejo lógica em reencarnação, ok?) e passa muito rápido. Independentemente de quais sejam os seus objetivos de vida, não pense que eles esperarão por você lá na frente, solícitos e ansiosos por sua chegada. Pode ser que você não chegue até lá, ou que, ao longo dos anos, mude completamente seus conceitos e expectativas. Além disso, ingenuidade máxima é acreditar que o bem que você distribui será retribuído. Se for, encare como lucro da humanidade, mas a verdade é que o indivíduo é egoísta pela própria natureza social e não raro sequer possui feeling para entender que deve retribuir o bem recebido.

Por isso digo e repito dezenas de vezes nesse blog que acredito cada vez menos na reciprocidade humana. Acontece que hoje em dia já aprendi a conviver com isso e - por que não dizer? - me resignei. E aprendi também a viver cada vez mais a minha vida em primeiro lugar e a vida dos outros em segundo, porque é o que quase todo mundo faz.
Menos minha amiga.

Um comentário:

  1. É, tu tem toda essa percepção, imagina se tu tivesse irmãos!? Saberia muito mais de tudo isso na prática :)

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