quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O que poderia ter sido diferente


Toda vez em que assisto ao filme Efeito Borboleta choro mais do que o esperado para o teor da história, e da última vez não foi diferente. Sempre na mesma cena: quando Evan, o protagonista, decide fazer uma última tentativa de consertar a vida das pessoas à sua volta e sacrifica a sua felicidade para salvar a garota por quem sempre foi apaixonado. Como ele faz isso? Indo até o princípio da relação dos dois e impedindo-a de se afeiçoar a ele. Eu choro porque o rapaz foi e voltou no tempo várias vezes, e sempre algo dava errado ou com sua mãe, ou com seus amigos, ou com a garota, ou com ele mesmo - embora sempre ele tenha priorizado o bem-estar dos outros em detrimento de si - e porque a única maneira de tentar garantir uma vida digna a todos tornou impossível a ele ficar com o seu amor.

Não me xinguem por ter contado a moral do filme, afinal ele é super antigo já. Além do mais, a história é tão complexa que vale assistir por inteiro e se deixar envolver pela angústia de Evan. É absolutamente um dos filmes de que mais gostei em toda a minha vida!

E admito que esse filme não é por default uma obra para emocionar, mas minhas lágrimas vertem porque não dá para não me identificar com o filme. Quem nunca desejou poder voltar no tempo e dar um novo rumo à uma história que não se desenrolou como deveria? Quem é que não convive com pelo menos uma consequência de um episódio cujo controle se perdeu na época? Não tente me convencer de que tudo o que você fez/viveu foi do jeito que deveria ter sido. Isso não existe no mundo real. Pode ser que você tenha superado a questão ou tenha aprendido a viver com as adversidades ocasionadas por ela, mas negar a decepção é no mínimo falácia.

Eu se pudesse voltaria no tempo e mudaria muitas coisas das quais me arrependo irremediavelmente e que me doem até hoje. Há feridas que jamais cicatrizam e, se param de doer, é porque as escondemos sob ataduras protetoras; mas mesmo que cubramos com um band-aid bem colorido, vez por outra alguma ponta de armário vai bater em cheio e nos lembrar de que a maldita ferida continua lá... machucando! Para esses casos seria ótimo retroceder até instantes antes da m**** acontecer e tomar outra atitude, mas levando para o passado a bagagem (a consciência) de tudo o que até então ocorreu em decorrência do erro - como no filme!

Se assim fosse, eu teria uma chance kamikaze de dizer a duas pessoas o quanto eu gostava delas. Logicamente em tempos diferentes e, dependendo do caso, sequer haveria a segunda pessoa. Eu poderia ter me desafiado a realizar um esforço sobrehumano na universidade e hoje estar formada e livre para tantos outros projetos que estão envelhecendo. Teria participado mais da vida de pessoas tão importantes mas que já não estão nessa vida. Enfim, entre tantas outras coisas que hoje são apenas rabiscos do que poderia ser uma história digna. Grande parte vinculada a pessoas, ou seja, aquilo que toma um rumo inesperado é quase sempre o que é escrito a pelo menos quatro mãos.

E o que mais doi ao ver o filme e fazer um paralelo com a vida real é que de fato quando pretendemos proteger a quem amamos, há uma significativa probabilidade de sairmos perdendo de alguma maneira. Ou seja, se desejamos a nossa felicidade e tomamos decisões [erradas] mirando-a, muito possivelmente alguém vai ser lesado. Isso na minha opinião tem, sim, relação com a Teoria do Caos:

Ao efeito da realimentação do erro foi chamado mais tarde por Lorenz de Efeito Borboleta, ou seja uma dependência sensível dos resultados finais às condições iniciais da alimentação dos dados. Assim, qualquer que fosse a distância entre dois pontos diferentes, depois de um tempo os pontos estariam separados e irreconhecíveis.
Normalmente este efeito é ilustrado com a noção de que o bater das asas de uma borboleta num extremo do globo terrestre, pode provocar uma tormenta no outro extremo no intervalo de tempo de semanas.

Fonte: Teoria do Caos @Wikipedia

Cabe a você e a mim decidir quem é que pode suportar mais as consequências de cada pequena decisão própria. Mesmo que ela seja "apenas" uma leve batida de asas.

Minha essência sempre tendeu à abnegação e isso vigorou por quase toda a minha vida, e acredite, eu não era infeliz, se for possível simplificar tanto assim a coisa. Mas com a maturidade e as pedreiras da vida eu mudei - ou melhor, criei uma espécie de carapaça - que se por um lado me protege, por outro me enrijece. E é nisso que está o problema de uma estrutura rija: de fora para dentro faz bem o seu papel, porém de dentro para fora se torna um pesado obstáculo.

O personagem do filme não é e nunca se deixou ficar assim. Pelo contrário, a cada experiência mal sucedida ele via a necessidade maior de voltar a um dos episódio-chave da sua vida e dar um novo rumo. Enquanto todos os outros não estivessem bem, enquanto ele estivesse vivo, ele tentaria mais uma vez. Até que chegou a um ponto de equilíbrio, sob a sua difícil decisão de abnegar da própria felicidade. Foi muito nobre!

Assim, pense: O que você gostaria de reescrever na sua vida? Seria isso possível? Viável? As consequências seriam melhores ou mais amenas do que a realidade pura? Faça esse exercício de reflexão; não me surpreenderei se você encontrar páginas que mereçam ser reescritas e força para fazê-lo. Se existe uma nova chance, do it!

Um comentário:

  1. Gostei muuuito deste post! Ah, se a gente pudesse voltar no passado...com a maturidade do presente! Mas como disseste, o mundo não é perfeito, nós não somos perfeitos e se conseguíssemos voltar, mesmo assim poderíamos cair em outras armadilhas. Outra coisinha: a respeito do que disseste sobre se tornar mais rígida, tem uma frase que gosto muito: "há que endurecer sem perder a ternura".
    bjs, Rita.

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