sábado, 5 de fevereiro de 2011

Que tal resgatar o seu amigo imaginário?

Assistindo a esse curta da safra 2010 das "Histórias Curtas" da RBS fui enviada lá para minha infância em Canoas City, quando, vivendo em uma casa com quatro adultos e sendo filha única, confiava muito no meu amigo imaginário.
Não, ele não se chamava Murphy, ok? Esse eu conheci depois de adulta.

Era um menino da minha idade e que curtia fazer todas as coisas que eu curtia. Éramos unha e carne, companheiros de brincadeiras e de conversas muito viajadas. Com o passar do tempo ele resolveu ir embora, pois estava se sentindo preterido em função dos meus amiguinhos reais.

<mulherzinha>O Felipe Monaco, protagonista do curta, é um BOM ator, não é? Adoro quando topo com ele aqui na minha rua - o que não é muito infrequente, diga-se de passagem.</mulherzinha>

Mas e você? Tinha um amigo só seu como as personagens do curta e eu?

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um destino tão fabuloso como o de Amélie

Na noite passada procurei corrigir uma falha antiga, frequentemente apontada pelas pessoas à minha volta: assistir ao Le fabuleux destin d'Amélie Poulain.
Evidentemente o filme saltou para as posições iniciais do meu ranking pessoal tão logo o destino de Amélie começou a mudar, tamanho foi o impacto da sua história na desta autora. Exagero?


Não, e explicarei o porquê.

São muitos os momentos de questionamento que tenho enfrentado desde que decidi que não suportaria mais conviver com as frustrações que me calcificaram ao longo dos anos. Imagine que, tendo compreendido que era hora de reconstruir os alicerces, você se vale de uma talha para quebrar o exoesqueleto e... bem, você fica vulnerável. Assim estou eu. Se por um lado me encontro aberta a tudo, aceitando os conselhos que outrora refutava e descobrindo um novo jeito (mais leve) de ver as coisas, por outro lado estou emotiva demais. Algo que outras pessoas experimentam - e até curtem, por que não? - para mim pode significar uma experiência muito mais profunda; uma lição; uma descoberta; um certo enxergar a mim mesma em uma simples personagem.

Amélie teria justificados motivos para viver uma vidinha inerte em seu pequeno mundo construído a partir das poucas experiências que teve desde a infância - infância essa tolhida, dramática e isolada -, entretanto permitiu aflorar sua essência meio altruísta, meio justiceira e totalmente sonhadora para fazer o que julgava certo pelos outros. Em contrapartida não encontrava coragem para realizar o que, possivelmente, faria feliz a ela mesma. It's me.

Não meço esforços para fazer o bem a quem amo / adoro / simpatizo / considero pra caramba, e não raro coloco-me em segundo plano em função disso. E não dói, sabe? Pelo contrário, faz um bem enorme ver que pude auxiliar alguém a ser um pouquinho mais feliz, e acredito firmemente que se todos pensássemos genuinamente assim o mundo seria um tantinho mais doce.

Bom, só que quando é hora de fazer algo por mim mesma, ferrou. Parece que imediatamente desaprendo todas as fórmulas de sucesso e faço tudo errado (isso quando faço!). É insuportavelmente constrangedor não ter o domínio sobre as próprias emoções e, com um receio além do aceitável, me esconder dentro da concha por ter medo de falar demais/o que não devia. E eu sou campeã em falar a coisa errada na hora errada.


Na verdade hoje meu psicoterapeuta saiu-me com a seguinte frase: "Tati, tu és uma pessoa fantástica, e o é justamente por passar 24 horas/dia pensando, racionalizando tudo. Mas é hora de desligar o teu cérebro; desliga-o exatamente nas horas em que precisar tomar as tuas decisões mais importantes".
E ele tem razão ao afirmar isso: meu problema é a mania de pensar nos prós e nos contras de toda ação que eu cogite realizar. Porém não são apenas os prós e contras da ação imediata que coloco na balança, e sim todo o enredo que vier a se desenrolar depois. Sabe-se lá qual será a próxima cena da história?! Não há como prever qualquer evento que não dependa unicamente de você. Desde seu chefe até o amor da sua vida... não há como saber previamente qual será a reação do indivíduo. Não se engane. Tati, não te engana!

Então, ao ver a desajeitada Amélie criar sua estratégia de gato-e-rato para cumprir dois objetivos (atrair o rapaz por quem já estava perdidamente apaixonada e concomitantemente testá-lo para se assegurar de que realmente os dois são muito parecidos) me identifiquei imediatamente. Não que costume usar estratagemas como comunicação por meio de cartazes afixados em uma estação de metrô , mas eu poderia encarar diretamente as coisas. Quem sabe um dia aprenda a ser mais confiante. Quando tiver guardado em uma caixinha velha as histórias que já vivi e foram mais frustrantes do que felizes.

Mas, espere aí! Essas histórias já estão guardadas no sótão! Sim, definitivamente estão em seu devido lugar, a maioria delas bem organizada e com o único propósito de ter feito parte do meu passado. Então já é hora de experimentar um fabuloso destino como o de Amélie!


Claro esteja que não me refiro tão somente ao lado afetivo da coisa. Infelizmente deixava de tomar atitudes em diversos aspectos da vida, tornando-me acomodada em praticamente tudo. Como ouvi de uma pessoa há  certo tempo, "parece que deixei passar muitos anos em branco". Ei, isso sim doeu! Mas também ajudou-me a cair na real e promover a mudança que já era mais do que necessária.

Com isso tudo e com as perspectivas que se desenham daqui para frente (fruto dessa mudança interior em andamento), penso que é um [feliz] caminho sem volta. Ainda falta um bom trecho de estrada para percorrer, estou ciente, durante o qual será possível aprender a ser uma pessoa melhor. Porém já não é tão duro; hoje sou um muito mais Amélie Poulain do que Vicky ou Cristina.

“O mundo é cheio de coisas mágicas pacientemente esperando que nossa percepção fique mais aguçada.” 
Bertrand Russel