domingo, 18 de abril de 2010

O efeito gangorra

Assim denomino a recorrente situação de duas pessoas que têm um relacionamento de longo prazo e dificilmente estão na mesma vibe. Talvez você não tenha se dado conta ainda da existência do efeito gangorra, mas praticamente todo mundo já o enfrentou alguma(s) vez(es) na vida. Ele não é bom - pelo contrário, angustia - mas é inevitavelmente normal.

Up and down. Você lá em cima feliz, realizada, com tudo dando estranhamente certo e se sentindo muito confiante. A outra pessoa deprimida, introspectiva, gastando todo o seu tempo livre em auto-análise para tentar encontrar a farpa fincada no olho que tanto lhe incomoda. Você está ocupada demais com os seus desafios empolgantes e não percebe que tem alguém precisando urgentemente de ajuda para sair de uma depressão que aniquilou aquele espírito brilhante de outrora.
Ou pior: você pode até cometer o pecado de não legitimar o sofrimento alheio; isto é, uma vez que uma aura de otimismo inundou sua alma, todo sofrimento de outrem parece coisa pouca, superável ou mesmo teatral. E esse é um comportamento dos mais condenáveis, não importando se foi não intencional.

Down and up. Passado um tempo (alguns meses são suficientes), é você que se encontra desanimada questionando suas escolhas, com a nítida impressão de que jogou fora momentos, pessoas e oportunidades. Desaparece das rodas de amigos, viaja sozinha para um lugar escuso, procura um analista. Tem ganas de chutar seu emprego e recomeçar a vida do zero em uma cidade desconhecida para reescrever a própria história, refazendo todas as escolhas. O outro? Recuperado, engajado em novos projetos, fazendo festa e com uma pele ótima! Tão feliz que não compreende que agora é você quem está precisando de conforto, de um abraço, de alguém que lhe ouça. E é sempre assim...

Mas por que eu disse no começo que isso ocorre em um relacionamento de longo prazo? Com tanta indiferença as relações não se deterioram?

Segundo dados estatísticos elaborados dentro da minha cabeça, 80% das relações têm seus alicerces fortemente abalados por essa corrosão sim. Se a casa não cair de vez, no maior estilo World Trade Center, se tornará tão frágil, tão frágil, que o tempo reduzirá tudo a um mero coleguismo. Já os outros 20% são os que me fazem ter esperança de que os relacionamentos ainda valem a pena. São aquelas pessoas que se dão conta da mancada e procuram a alma doente, seja para escutar e dar algum conselho, seja para promover um programa gradual de recuperação da auto-estima do amigo.

Já estive dos dois lados da gangorra e já precisei muito de alguém para me levantar. O que mais doeu é que tive que levantar sozinha, o que tornou meus joelhos mais firmes, mas o coração um pouco mais rígido. E por conta disso também já subestimei a má fase alheia. Shame on me!

Entretanto deixo o sincero desejo de que aprendamos a olhar mais para fora de nós mesmos para i) enxergarmos quando é necessário levar a alguém nossa positividade, ii) vermos que há um mundo de oportunidades mesmo quando nos sentimos subjugados e iii) que não joguemos fora pessoas valiosas nesses momentos extremos de alegria ou dor.

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